Numa manhã cinzenta de Maio, como quase todas este ano, sentei-me com o Tomás no novo espaço da ESAD-IDEA em Brito Capelo, no coração comercial de Matosinhos, a poucos metros do MMM e paredes-meias com o edifício que alberga o quartel general do Saber Fazer.
Da mesma forma que é impossível começar uma reunião neste espaço sem antes dar uma volta pelo seu interior para admirar o trabalho fantástico que foi feito na recuperação do edifício, também não é possível começar o texto sem uma referência à qualidade da sua arquitectura.
O edifício, que já foi duas agências bancárias da autoria de Manuel Fernandes de Sá, cada uma com entrada pela sua rua, foi construído no final da década de 30, tendo sido agora renovado pela arquitecta Maria Milano para albergar o centro de I&D da ESAD. É um volume de pedra com duas frentes muito semelhantes, uma a dar para a Brito Capelo, outra para a recatada França Júnior, uma das ruas mais bonitas da cidade. Se os exteriores se mantém fundamentalmente iguais ao que eram, o interior, agora unido pelas traseiras, foi transformado numa espécie de templo dedicado ao design. A decoração é perfeita e consegue transformar o espaço num abrigo para quem chega da sempre ruidosa e movimentada Brito Capelo.
Só consegui apanhar o Tomás durante uns minutos, antes de ele sair para a Casa do Design, da qual já vamos falar, onde estavam a montar uma nova exposição chamada “IMPRIMERE – Arte e Processo nos 250 anos da Imprensa Nacional”, da curadoria de Sofia Meira e Ruben Dias, que estará por lá até Novembro e, durante algum tempo, em simultâneo com a exposição “Portugal Imaginário”, dedicada à propaganda no Estado Novo. Por isso, a nossa conversa não foi longa, mas houve tempo suficiente para o Tomás explicar o que é a ESAD-IDEA e falarmos sobre tudo o que está a acontecer no centro de Matosinhos e também para dedicarmos algumas palavras à sua bicicleta nova, uma Pelago Bristol.
Já lá dentro, na zona do bar, escolhemos um dos cadeirões encostados às grandes janelas e o ecoar das nossas palavras no espaço amplo foi sendo interrompido com alguma regularidade pelos ruídos da rua, do Metro que passa quase encostado ao edifício e das pessoas a falar.
“A ESAD-IDEA foi criada numa parceria entre a Câmara Municipal de Matosinhos e a Escola Superior de Arte e Design com o objectivo de estabelecer uma ponte entre o público geral e a faculdade: a Porto Design Bienal terá aqui a sua sede de Matosinhos (a outra é no Porto).
Este é um edifício histórico da Brito Capelo e foi cedido à ESAD pela Câmara para intervirmos nele com um objectivo cultural. Com a chegada cá, queremos ir mais além e ajudar a tornar toda esta zona mais interessante e diversa, fazendo uma ligação com as novas dinâmicas no Mercado Municipal, com os nossos alunos e a nossa comunidade alargada, trazendo-os até aqui. Este, onde estamos, é um espaço aberto ao público, com cafetaria e loja. Há também uma biblioteca da ESAD, para onde queremos chamar alunos de mestrado e professores da escola. No primeiro piso há um espaço mais privado e mais acima há uma residência para convidados da ESAD-IDEA.
Aqui, neste bairro, há uma dinâmica especial, com o Porto de Leixões e o Mercado. É uma zona mais popular e respeitar isso é um desafio, procurando-se contudo criar novas dinâmicas de vida, com pessoas novas. Matosinhos Sul, onde está a Casa da Arquitectura, está muito desenvolvida, mas de uma forma diferente desta zona envolvente do Mercado.
A Incubadora da ESAD no Mercado, projecto já com alguns anos, é outra parceria com a Câmara, com o objectivo de acolher e apoiar novas empresas ligadas ao Design e às Artes. Custou a arrancar e o início não foi fácil, mas hoje em dia seria necessário o dobro ou o triplo do espaço para dar resposta a todos os pedidos que recebemos. As empresas incubadas foram criadas dentro do universo da ESAD, mas também há projectos que chegam de fora.
Há aqui em baixo, no Centro da cidade, este triângulo, que ocupa o bairro todo, entre a ESAD-IDEA, a Incubadora e a Casa do Design, que acaba por esticar até à Senhora da Hora onde está a ESAD.
A Casa do Design, no edifício da Câmara, é uma galeria, uma extensão da ESAD-IDEA, noutra parceria com a autarquia, com o objectivo de mostrar design nacional. Tivemos lá recentemente exposições como a dos Discos Orfeu da curadoria de José Bartolo, a das Motas de Portugal, curada pelo Emanuel Barbosa, entre outras. Todas as exposições têm publicações que depois são vendidas por nós.
A minha relação com o Design é embrionária. Nasci numa família onde se respira design, dia e noite, até demasiado e a música e o design sempre fizeram parte da minha formação em casa. A música é um projecto contínuo há muitos anos, muito importante para mim, mas tive outros, como a marca de casacos impermeáveis Caiágua, que vem buscar inspiração aqui ao Norte do País. Este ano caiu muita água, mas a colecção está adormecida (risos). Estamos a trabalhar para acordar a marca e a tornar mais internacional, mas mantendo a produção cá no Norte.
Agora a Pelago. Comprei esta bicicleta para andar diariamente, porque percebi que faz muito mais sentido. Estou a morar em Francos e venho normalmente de Metro e ando sempre por aqui, onde tudo é plano. Trazer o carro para cá para baixo não faz sentido.
A Pelago Bristol tem um design com o qual me identifico. É uma quase pasteleira, mas sem o ser. É uma bicicleta urbana, muito sóbria, sem grandes detalhes nos acabamentos, muito clean. A relação preço-qualidade é muito boa, estou muito contente.
Bem, agradeço a conversa, mas agora tenho que ir, há uma exposição para montar (risos).
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