O António Pedro tem trinta e quatro anos, mora em Matosinhos e é médico internista num hospital no centro do Porto. É casado e pai de dois, um rapaz e uma rapariga. Começou a usar a bicicleta na cidade há um ano, mais minuto, menos minuto, quando deixou de ter que fazer 120 quilómetros por dia. Primeiro uma vez por semana, depois duas, agora quase sempre. Como quase todos de nós, começou a pedalar no Verão, para logo descobrir que no Inverno é que é bom. Gosta sobretudo de pedalar à noite, a altura do dia mais introspectiva e quando o bicho-carro normalmente já está a ronronar na sua garagem num qualquer subúrbio aborrecido. Não é que o animal o incomode muito, porque a convivência, não sendo a melhor, vai-se fazendo. “Não sei se sou um optimista incurável e quero muito ver mais e mais. Se calhar não, mas acho que andam por aí mais bicicletas. É isso, no parque do hospital andam de certeza”.
António Pedro is a 34 years old living in Matosinhos and working in Central Porto. He’s a doctor and father of two. António started bike commuting one year ago when stopped driving 120 km every day. In the beginning, only every now and then, no more than a couple of days a week and then but, gradually, he started using the bicycle every day. Like the most of us, Pedro has discovered that pedaling in winter is better than in summer and the nights are better than the days. Nothing beats an automobile-free night ride, safe from the heat and with most of the cars already parked at the suburbia. “Maybe I’m an incurable optimist and I’m seeing bikes where they don’t exist, but it seems there are much more of us out there, don’t you think?”
A nossa conversa foi-se desenrolando entre uma visita ao Biomercado no Mercado de Matosinhos, uma chávena de chá e uma ou outra visita à nossa loja. Se calhar por já ter um filtro para a conversa estéril em torno da problemática da bicicleta por essa Internet fora, o que me fez querer entrevistar o António Pedro e trazê-lo para a experiência “A Brompton Week” não foi tanto a sua rotina a pedalar, mas as suas partilhas de coisas relacionadas com a comida, em particular com a Dieta do Paleolítico. Um médico internista, homem da ciência e uma corrente a quem muitos não hesitam em colar o rótulo de pseudo-ciência. Queria saber mais, mas não estava à espera de fundamentalismos. Também não os encontrei. Encontrei uma pessoa que conseguiu chegar a um equilíbrio muito interessante, um pouco como o resto dos que por aqui têm passado. Claro que me lembrei logo do nosso bom amigo Pedro.
Our conversation happened in different days. We chatted during a visit to the organic grocer at the Matosinhos Fish Market Biomercado, having a cup of tea at a local cafe and in a couple of visits to our bike shop. I’m quite fed up with all the sterile cycling discussion on the Internet. What most interested me in António was not the way he uses a bike, but the things he shares related to food and the “paleo diet”. A doctor, a man of science following a ‘wave’ too many consider as pseudo-science. Interesting. I wanted to know more and found not a fundamentalist, but someone that managed to achieve a very interesting balance, something normal in our “A Brompton Week” participants. A bit as our good friend Pedro.
“A minha relação com a comida é um pouco complicada de explicar. Até há poucos anos atrás era um guloso sem grandes preocupações, mas com o bater dos trinta, senti-me mesmo em má forma e a juntar à festa, aconteceram-me algumas coisas que me puseram a pensar. A Dieta Paleo chamou-me a atenção e foi uma maneira de me pôr a reflectir no que estava a fazer mal e, de uma forma mais aberta, nas opções alimentares que existem. O açúcar, por exemplo… sinto muito mais energia e estabilidade sem açúcar. Começo a manhã de trabalho com muita disponibilidade e isso dura até à hora do almoço. Apesar da minha preocupação nunca ter sido emagrecer, o que é certo é que isso aconteceu muito naturalmente. Foram seis ou sete quilos durante o período de transição.
Sem fundamentalismos e não entrando a fundo no Paleo, evito comer comida processada, doces e coisas pseudo-saudáveis. Deixei a maioria dos cereais e comecei a introduzir mais gorduras boas e proteínas. Há coisas para as quais somos educados e vai-se a ver e provavelmente está tudo errado. A comida saborosa e barata dá muito dinheiro. Os snacks pseudo-saudáveis dão muito lucro. Estes últimos são um dos grandes paradoxos da vida moderna, quase como pagar para pedalar entre quatro paredes.”
“For me, it’s a bit difficult talking about food. Just some few years ago I was a sweet tooth and didn’t put too much thought on the way bad food can harm our health. When turning 30 I was in a really bad shape and started thinking about my health and my future. The paleo diet kept my attention and was a good driver for change, a way to start thinking about food in a more open manner. Sugar was the first thing to go and I started immediately to feel much more energy during a working day. I was never worried about my weight but lost 6 or 7 kilos in this transition period.
Without being an extremist, I avoid eating processed food, sweets, and pseudo-healthy stuff. I’m not eating most of the cereals and I’m much more into the healthy fats and proteins. We are taught to eat a certain way but, in the end, everything is questionable. Pseudo-health food, for example, is a very profitable business. It’s one of modern life paradoxes, like paying a gym subscription to pedal indoors.”
Da alimentação a quase tudo o resto foi um tirinho. As conversas que fomos tendo denunciaram alguém que está, neste momento, num processo de mudança, procurando ajustar o quotidiano a novos paradigmas. “Este foi o ponto de partida para uma reflexão mais profunda sobre outras dimensões da vida, incluindo a forma como consumo, como me desloco na cidade, como me visto ou como me alimento. Há todo um universo de ideias e de hábitos que nos vão sendo impingidos lentamente e que, no fundo, não são bons. Mudando a alimentação, percebi que posso mudar outras coisas, procurar sair das rotinas e deixar de estar acomodado. É tudo uma questão de mentalidade.”
After changing his diet, almost everything changed in Antonio’s life. The time we spent together showed someone in a transition period, trying to adjust his daily life to new paradigms. “This was the tipping point after which I made a profound reflection about other dimensions of my life, including the way I consume, dress and eat or the way I move in the city. There is a wide range of bad habits society imposes us from an early age which is not alright. Changing the way I eat, I discovered other things that can be changed too, if I’m willing to step out of my comfort zone. “
Apesar de termos tido a conversa a tocar nestes temas que nos são tão queridos, claro que também falámos sobre a Brompton. O entusiasmo do António Pedro foi muito evidente ao longo destes dias, tanto nas partilhas que foi fazendo nos social media, como na desenvoltura com que se apresentou a pedalar à chegada aos nossos encontros. Os elogios à extrema flexibilidade da bicicleta, a fiabilidade da mecânica, a forma como se adapta a um quotidiano em transição foram tema das conversas tidas com outros companheiros de estrada no parque do Hospital ou nos comentários às fotografias que foi partilhando. “Paradoxalmente, uma bicicleta como esta permite-me preocupar menos com a bicicleta. Cabe e fica bem dentro de casa, quando a outra ou fica mal pendurada nos arrumos ou cá fora solta. Esta é uma bicicleta verdadeiramente intermodal. A forma como dobra torna fácil o transporte, pôr e tirar do carro quando necessário, levar discretamente no metro e utilizar o elevador. Claro que quem anda todos os dias vai comparar sempre com uma bicicleta de roda grande. Naturalmente é mais nervosa, o que exige um certo cuidado e habituação, mas também tem uma maior agilidade. No conforto e na performance não notei diferença.”
Na altura em que fizemos a entrevista, tinha o seu carro à venda, talvez porque já não seja uma coisa tão fundamental na sua vida. Talvez porque tenha descoberto que pensando bicicleta, poderá estar a pensar em muitos tipos de mobilidade diferentes.
The humble bicycle is part of the change too and Antonio’s enthusiasm with our demo Brompton was very present every time we met and also in his social media sharing. The extreme flexibility allowed with such a compact folding bike, the mechanics, the reliability and the way it adapts to a lifestyle in transition were topics in conversations he had with colleagues and fellow commuters at the hospital car (and bike) park or online after sharing pictures of the bicycle. “It’s a paradox. A bicycle that allows me to be less concerned about bicycles. I store it in my flat, I can use the public transports and always chose the best commuting option at a given moment. It’s truly an intermodal vehicle. It’s a bit more nervous than a big wheel bicycle but more maneuverable. The comfort and the performance are very similar, though.”
Antonio was selling his car during this Brompton demo period. Maybe a car is not that important now. When “thinking bicycle”, António is thinking in many different ways of getting around.
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A Brompton Week é uma experiência que estamos a fazer com alguns dos nossos clientes e amigos: passar uma semana com uma dos nossas Brompton de demonstração e depois contar como foi. Coisa simples e agradável.
The Brompton Week is an experience we are making with some of our customers and friends. They are spending a few days with one of these iconic bikes and will tell our readers how it was. Simple, fun and certainly life-changing.
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