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A BROMPTON WEEK – MIKE

O Miguel, Mike para os “certos e determinados” amigos que nós somos, começou a sua “Brompton Week” ao mesmo tempo que a Rita.

Pegando antecipadamente nas palavras da Inês, rapariga que vão conhecer no próximo testemunho, mais do que um amante dos espaços abertos e das coisas boas da vida, o Mike é um “epicurista”. É um epicurista porque não é daquelas pessoas que anda a correr constantemente atrás dos prazeres, mas porque é alguém que procura um equilíbrio na alma que um dia lhe trará paz e sossego. É isso que sentimos quando estamos ao seu lado a trabalhar, ou sentados com ele no Mafalda’s a ter esta conversa. Foi também isso que sentimos quando há dois anos estivemos juntos em Londres, num apartamento estranhamente cheio de sol, a ouvir música e a falar sobre corridas, bicicletas e claro, comida.

Com trinta e nove anos e uma história de quase vinte ligada ao comércio, apanhámos o Mike numa fase de transição, acabado de emergir há poucos meses após sete anos a trabalhar enfiado na “mina”, que é o que chama ao centro comercial onde passou tempo suficiente para conhecer até ao mínimo detalhe as entranhas do monstro que é uma grande marca.

Muito antes disso, trabalhou numa loja de design de interiores e teve uma passagem de cinco anos pela Fnac.

Mike started his “Brompton Week” roughly at the same time as Rita.

Mike is more than an outdoor enthusiast that loves the good things in life. Choosing the wise words of our friend Inês, who will be featured in the next Brompton post, Mike is an “epicurist”, someone that is definitely not running after pleasures all the time, but someone searching for a certain equilibrium of the soul that one day will lead to peace and tranquility. This is precisely what we sense in him when seated by his side having this conversation at Mafalda’s. It’s the same impression we had a couple of years ago in a oddly sun bathed apartment in London, listening to music and talking about running, cycling and food.  

Having already lived thirty nine years, twenty of which working in retail, Mike is by the time of our interview in a transition period of his life. He spent the last seven years working in what he calls “The Mine”, a retailer in a big shopping mall where he got to know to the smallest of the details how a big brand corporate monster works.

Before this experience, Mike worked in a furniture shop  and for the french culture retail behemoth Fnac.

Foi na Fnac que conheceu alguém que acabaria por marcar o seu percurso, uma pessoa que, como ele, é apaixonada pela montanha e com quem começou a partir regularmente para desafios na natureza, que os levaram aos Pirinéus, a quatro mil metros de altura nos Alpes ou às ilhas Lofoten no Norte da Noruega. Estavam os dados lançados e o próximo passo foi mudar-se para os Pirinéus, onde trabalhou numa loja dedicada ao outdoor, para poder viver num sítio rodeado de montanhas.

Com uma parede de escalada à porta, a hora do almoço era ocupada com um ritual sagrado. Escalar, escalar, escalar. Duas horas inteirinhas. Para além disso, todos os dias ia correr para os trilhos. A viver na montanha atingiu o pico da sua forma física e mental. Quando regressou ao Porto três anos depois, foi então para a mina e foi demasiado rápido a encostar-se a uma rotina diferente. Já não estava no centro da acção.

It was at Fnac that he met a special friend, someone that also was a “great outdoors” type. A strong friendship started and leaded them to often hiking escapades to the Pyrenées mountains, to 4K peaks at the Alps or the Lofoten islands in Northern Norway. Returning home after each trip was becoming more and more difficult and the weekday mountain nostalgia leaded the duo to quit their jobs and start a three years gig at an outdoors retailer in the Pyrenées.

With a climbing wall at his doorsteps, Mike embraced a daily lunch-time ritual. Two whole hours of climbing, climbing and climbing. Living on the mountains, Mike was at his best. Everyday he went for a run in the trails, or a hike, or something else liberating. 

Um dia, o irmão ofereceu-lhe uma bicicleta. Pegou nela e foi de propósito a pedalar até ao trabalho para perceber se aquilo funcionaria para ele. Funcionou e bem. Na altura em que começou a pedalar para o trabalho, era muito activista e entusiasmado com a possibilidade de a sociedade mudar de paradigma. Não falhava um evento. Hoje, este activismo é feito a cada pedalada resoluta, a cada conversa tida, a cada dia sem pegar no carro.

Há uns quatro anos atrás, a bicicleta começou a despertar-lhe as mesmas sensações que só tinha conseguido viver na montanha. Não é uma coisa física, antes pelo contrário, mas também não é coisa fácil de se explicar. Por exemplo, quando pega na bicicleta de estrada que escolheu para si, peça a peça, pormenor a pormenor e a pedala com o bom pessoal do Arrasto, revive essas sensações. Pode pedalar duzentos quilómetros e o que fica não é a dor nas pernas, mas os pequenos momentos. Um reflexo no Douro ao nascer do dia, uma curva em contra-luz com os amigos a pedalar uns metros à frente, uma gargalhada partilhada pelo grupo.

A comida é também um elemento central na vida do Mike. Comer com companhia é um dos maiores prazeres que pode ter. Sair do trabalho ao final do dia e ir com a namorada beber um copo de vinho e comer pode salvar um dia. Claro que há uma relação entre a comida, as bicicletas e os amigos. O Mike é como o irmão e este é como o pai era. Ele é um cozinheiro fantástico e nada o deixa mais feliz do que grelhar o peixe que pescou nessa mesma manhã e partilhá-lo com os amigos. E o Mike estará sempre lá para o comer com ele, naturalmente.

One day, his brother gave him a bicycle. Mike rode it to work and it worked for him. Five years later, he’s still riding a bicycle everywhere he goes. By that time, Mike was very active in Porto’s urban cycling community. Today, his advocacy is made at every resolute revolution of the cranks, at every bit of conversation, at every car-free day.

A few years ago, Mike started to feel the same sensations with the bicycle that he had in the mountains. Nothing physical,but something deeper and not very easy to put into words. He has this feeling when riding his bespoke road bicycle, a timeless steel machine he planned part by part, spec by spec. He feels it when he rides along with the good lads at Arrasto. He can ride 200km and what he remembers in the aftermath is not the soared legs, but the small details of the ride. The exact moment the sun rises early in the morning, reflecting in the Douro, that weird curve he always rides with the sun in his face, the team pedaling and laughing few meters away.

Food is central in Mike’s life. Eating in the company of the special one is a simple, but great pleasure and something healing. Going out for food and wine with his girlfriend can save a bad day at the office. Food, cycling, friends, it makes all the sense. Mike is just like his brother is, and the brother is just like their late dad was. Nothing can beat barbecuing the morning catch for our friends.

Quando perguntámos como tinha sido a semana com a Brompton laranja, ele falou-nos da relação que tem com os objectos.

“Tenho uma relação emocional, pouco superficial, com o “touch and feel” de algumas coisas. As coisas muito bem feitas são sempre bonitas, tal como as boas bicicletas, tal como a Brompton. Orgulho-me das minhas duas bicicletas como me orgulhei ao pedalar nesta laranja. É que este mundo do ciclismo é carregado de mau gosto e consumismo e é importante mostrar este outro lado, mais sustentável, mais duradouro e mais ético.”

Antes da entrevista, o Mike escreveu-nos um texto sobre esta experiência e sobre como se sentiu a passar para o nível seguinte no que à mobilidade inteligente diz respeito.

“Roda de trás, roda da frente, guiador, espigão, pedal esquerdo. Vou integrando mentalmente o processo para dobrar a Brompton e entrar no Metro. Nesta altura descubro que há um antes e há um depois de se utilizar uma Brompton. Já tinha pedalado anteriormente numa Brompton, mas nunca tinha utilizado uma Brompton. Quero dar o devido ênfase ao verbo utilizar, porque foi mesmo isso que eu fiz com este objecto que, de ser tão simples, é brilhante.

Sempre considerei a minha bicicleta do dia a dia como uma ferramenta, mas a Brompton está no nível seguinte. É a ferramenta versão 2.0.”

When we asked about the Brompton Week, he talked about his connection with the well made things.

“I have a deep connection with some objects. A well designed, perfectly built and made to last object is always beautiful. Like a bespoke bicycle, like a Brompton. I’m proud of my bicycles and I felt proud riding this orange bike. This cycling world is fueled by bad taste and nonsensical consumerism. It’s very important to show this other side, more sustainable, more lasting, more ethical.”

Prior to our conversation, Mike wrote us a small text about the experience of riding a Brompton and how it allowed him to climb the “intelligent mobility” ladder.

“Back wheel, front wheel, handlebars, seat-post, left pedal. I’m mentally following the ritual of folding the Brompton to step in the Metro. By this time, I realize there is a before and an after of “using” a Brompton. I already had the opportunity to ride a Brompton before, but never have truly “used” it. At this point, I’d like to put some emphasis in the verb “to use”. Because it’s what I did with this bicycle which is, in its simplicity, one of the most brilliant things I’ve ever seen.  I’ve always considered my dutch style commuter a tool, but the Brompton is in a totally different level. It’s a 2.0 version of the tool, ant it’s brilliant.”

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“Entretanto, o Metro continua a encher e eu vou estranhamente tranquilo lá dentro. Estou relaxado e pela primeira vez em muito tempo não me sinto o elefante dentro da loja de porcelanas, que é o que acontece quando transporto a outra, a grande. Já tentaram entrar no Metro em hora de de ponta, com uma bicicleta tipo holandesa? É uma experiência única! Lê-se no olhar das pessoas “Não, não vais entrar”. E quando entras, provavelmente tens que começar a manobrar toda a gente à tua volta duas paragens antes de saíres.

Com a Brompton encostada à porta ou às minhas pernas, as pessoas olham com um misto de curiosidade e espanto para este pequeno “embrulho” de tubos, cabos e rodas.”

“Saio do Metro e pouso o embrulho no chão. Pedal, espigão, guiador, roda da frente e, por fim, o gentil “coice” que coloca a roda de trás no seu sítio. Arranco. Enquanto pedalo, apercebo-me da sua leveza e agilidade. Mais do que qualquer bicicleta que tenha pedalado, esta é uma extensão do meu corpo. A Brompton dá-me sempre vontade de ir pelo caminho mais longo, mais congestionado. Quando chego ao destino, dobro-a e entro onde tenho que entrar, simplesmente.

Num semáforo olho para uma montra e lembro-me de algo que me disseram. “Pareces um totó numa bicicleta de criança”. De facto há qualquer coisa de invulgar na proporção  entre o ciclista e a bicicleta quando estamos numa Brompton, mas não, não pareço um totó. Sou o único a arrancar e vou ser aquele que vai chegar a casa cedo.”

“Meanwhile, the Metro is getting full with my fellow commuters and I feel a strange peace of mind. For the first time I’m totally relaxed carrying a bicycle inside the train. I’m not the elephant in the China shop and i don’t need to draw an exit plan two stops prior to arriving at my destination. I keep the Brompton close to me, or folded by the door and everyone seems intrigued by this small pack of steel and rubber.”

“When leaving the train, I restart the process, but in reverse. “left pedal, seat-post, handlebars, front wheel, and ‘hop’, with a gentle kick, there goes the back wheel”. When pedaling, I notice the lightness and agility. More than any other bike, the Brompton is an extension of my own body. With the Brompton I’m not afraid of heading towards the busiest of the roads. Upon arrival, I quickly fold it and simply walk in. 

Stopped on a red light, I look at the shop window at my side and think in the words somebody said me early in the day. “You look like a bit weird riding a kids bike”. It’s a fact, there is something unusual in the proportions of a 16’’ wheeler,  but no, I definitely don’t look weird. I’m the first and only to move forward with the green light and probably the only one arriving home early.”

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Lê e acompanha os testemunhos “Brompton Week” aqui / Read and follow the “Brompton Week” posts here.

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