Categories: DestaquesGeral

A BROMPTON WEEK – PEDRO

“Sabes, esta minha área ainda é muito conservadora e eles não estavam a contar ver-me a entrar na reunião com uma bicicleta debaixo do braço.”

No mesmo dia em que entrevistámos o Mike, sentados no Mafalda’s, o Pedro estava na mesa ao lado. Esta coincidência fez com que a entrevista de um acabasse por também ser o prelúdio da do outro. O episódio, cada vez mais normal nas nossas cidades, mas ainda contado com uma gargalhada, foi o prato de entrada de uma conversa que acabámos por ter uns dias mais tarde no terraço do Lexo Coworking em Matosinhos, a casa onde o Pedro tem o seu escritório. Curiosamente, falámos muito de muitas coisas e pouco sobre bicicletas, se calhar porque estas são um já um aspecto banal dos nossos quotidianos pessoais.

“You know, I work in finance and this is still a very conservative world. They just weren’t expecting me carrying a bicycle to the meeting room.”

This episode, told with a big laugh at lunch, was a cheerful introduction to a conversation we had few days later at the Lexo Coworking, a cosy townhouse in Matosinhos where his office is located. We talked mostly of things not related with cycling because we know each other quite well and know exactly why we both use a bicycle almost every single day.

O Pedro, consultor financeiro independente, com quarenta e um anos e quatro filhos no cadastro, é o quarto entrevistado na nossa série “A Brompton Week”. É já um velho conhecido nosso, cliente da Velo Culture desde a primeira hora e, mais recentemente, o responsável por nos manter a “escrita” em dia. A história do Pedro tem muitos paralelismos com a nossa própria história e por isso a conversa fluiu de uma forma muito especial.

O Pedro nasceu na Nazaré e chegou ao Porto com dezoito anos, vindo de Santarém, para estudar Gestão. Ainda estava a estudar quando foi convidado para ir trabalhar para um banco holandês, onde o seu primeiro chefe lhe transmitiu uma das lições mais importantes da sua vida.

“Uma cabeça a mil não rende e é necessário saber gerir o tempo e tratarmos de nós próprios. Se trabalharmos das nove às cinco e formos eficientes, conseguimos ter uma segunda vida afastada do trabalho. Nesta área é fácil andar numa roda viva e devemos a nós próprios fazer um esforço para abrandar.”

Estava o mote dado para a conversa, que andou à volta de uma certa noção de equilíbrio.

Pedro, the fourth participant in our “A Brompton Week” experience, is a 41 years old with four children in the record. He’s a Velo Culture’s first hour customer and runs the small business now responsible for our book keeping. His history has many similarities with our own and, probably, that’s why our interview was so fluid. Pedro was raised in Santarém, a city not far from Nazaré, the surfing town a bit North from Lisbon where he was born. He was 18 when settled in Porto for a business management degree. Pedro was still an undergraduate when a Dutch bank invited him to join its ranks, a place where he learned one of the most important lessons of his life. His first boss, still a good friend, once told him that having one’s own time is vital. If you’re so busy that you can’t manage to have this time for yourself, you’re not being productive.

“We work from 8 to 5 and, if we manage to be productive, we can have another life away from work. In finance it’s very easy to have a very intense routine and this effort is important to keep our mental health”.

Ao fim de algum tempo, saiu do banco para assumir a direcção financeira de uma empresa familiar, de onde saiu ao fim de uma década para fazer várias especializações. Com as energias renovadas, ingressou numa empresa têxtil, para sair passados três meses, porque no fundo, nessa altura já sabia que queria ser o dono do seu tempo. Estávamos em 2012 e a partir desse momento deixou de sentir a necessidade de ter férias. Somos do mesmo vintage e as semelhanças não estão só no ano de abertura dos nossos negócios.

“Aprendi ao longo da vida que trabalhar para a qualidade não é o mesmo que trabalhar para o volume. A maioria dos meus colegas trabalha para o volume, eu estou focado na qualidade e em clientes que percebem a importância de um serviço com valor acrescentado, que assumem esta área como sendo verdadeiramente estratégica”.

Some few years after starting at the bank, Pedro left to become the CFO of a family-owned industrial enterprise. After a decade at this company, he decided to go back to school for a series of highly technical training courses, after which he started a new job at a textile company. By then he already knew that his future was being the master of his own time, and just three months after joining the company he left and kicked-off the the third part of his career as a free-lance consultant. It was 2012 and he never felt the need for a vacation again. As entrepreneurs and persons, we are from the same vintage and our similarities are much more than the year we both set up shop.

“In my career, I learned that working for quality is not the same as working for volume. Most of my colleagues work for the volume, but I work the other way around. My customers are willing to pay for a added value service, they understand that this is a truly strategical area.”

Hoje, a humilde bicicleta faz parte do quotidiano do Pedro. Chegou com a mudança que começou a ser construída em 2012, altura também em que também começou a praticar Yoga, um dos seus rituais sagrados.

“A minha relação com a vida tem vindo a evoluir. O trabalho físico, por exemplo, pode ter um efeito positivo, imediato e puro, mas, também pode ter um outro mais complexo e duradouro e que pode ser usado a meu favor no dia-a-dia. Uma espécie de estado de espírito. Para além do desporto, há várias outras coisas que são factores de equilíbrio, que podem ajudar a perpetuar esta sensação.

Entrei recentemente nos quarenta. A vida devia mesmo começar agora, tu também sabes isso! Há muita coisa que nesta altura ponho em perspectiva e, de certa forma, estou mais focado naquilo que eu acho que é essencial. Vivo num País bom, tenho um trabalho que me realiza, tempo para praticar desporto e dedicar-me à minha família. Até os hábitos alimentares mudei. Os vegetais e as frutas chegam-nos directamente do produtor. Todos os dias procuro almoços leves e caseiros, pouca carne, ou quase nenhuma. É por isso que sempre que posso venho almoçar ao Mafalda’s, mas, de vez em quando, também quebro as regras. Por exemplo, há uma sexta-feira por mês que almoço num restaurante da Baixa com um grupo de amigos. Passamos lá a tarde toda a comer e beber. É quase como um ritual.”

The humble bicycle is part of Pedro’s daily day and arrived some few years ago with a change in his lifestyle. Yoga, one of his most sacred rituals, is also part of this process.

“The way I live is always evolving. For example, I like the pure and immediate impact of the physical activity, but, I’m also expecting a more complex and lasting positive effect that can help me to cope with my daily life. A certain state of mind. Besides sports, there is a growing set of other things that helps balancing life and to wind-down. These things can help me to be in that state in an almost permanent way. 

I’m in my early forties. Man, you know, life should only start now! There are too many things I nowadays put into perspective. I’m much more focused in what really matters for me and mu family. I happen to live in a very good country, I love what I do for a living and have plenty of time for me and my family. Food, for example, is a very important thing in life and the way I eat nowadays is much more discerning. I only buy fruits and vegetables from the farmer and I try to have healthy lunches everyday, like the one’s at Mafalda’s. But I also try to have the other side, though. From time to time I go for a full English, both literally and figuratively. Every month I take an afternoon off to have lunch with some good friends. We spend the afternoon eating and drinking and we’ve been doing this for ages now.” 

“Há uns anos  comecei a olhar para a bicicleta como um objecto. O lado estético das coisas fascina-me. Quando comprei a minha primeira bicicleta de cidade, vivia mais perto da Foz e já tinha começado a trabalhar aqui em Matosinhos. Percebi logo que pedalar neste trajecto era o mais lógico e tinha a matéria prima comigo, uma bicicleta boa e bonita. Foi só uma questão de começar.

Sabe muito bem perceber que estou a contribuir para uma mudança sustentável, pois não acredito que a tecnologia possa ser a salvação para o planeta, pelo contrário. É que está tudo descansado à espera que a tecnologia nos venha salvar, mas isso não vai acontecer. Dou comigo a pensar frequentemente nestas questões. Passei dez anos a trabalhar no sector agro-químico, área em que se vê como as coisas realmente são feitas. A mudança tem que começar em cada um de nós.

Mas não é só por isso que ando de bicicleta. É que no fundo, sou o tipo de pessoa que gosta do vento na cara.”

“Some few years ago, I started looking to the bicycle as an object because I like the aesthetics of a good bike. I’m touched by a well designed object and I bought my first commuter bike, a very good looking one. By that time I was living not far away from Matosinhos. It was a short and easy commute and I realized that riding a bike to work was the most rational thing to do. I never stopped again.

All this changing of gears for a more slow and sustainable pace is very important. Every one of us should be contributing much more. Technology is more and more advanced, but it will not save us. It’s the other way around. We are all very relaxed, waiting for the day the tech folks will sort the things out. That’s not possible and will not happen. I think a lot in my kids future and it has a strong influence in my way of life. I spent 10 years of my working life in the agrochemical sector and I know how things are made.”

Nesta altura começámos a ficar curiosos, a tentar perceber como era gerida a rotina de bicicleta, com a escola dos filhos, os clientes e um trajecto diário da Rotunda da Boavista para Matosinhos.

“Quando vim morar para a Nossa Senhora de Fátima, o trajecto diário duplicou. Para além da distância, o trânsito também agora é muito maior. Ainda assim, persisti. Agora faço dezasseis quilómetros por dia, oito para cada lado e apenas interrompo este ritual quando é a minha vez de levar as crianças à escola ou tenho que ir a clientes fora do Porto, alturas em que uso o carro.

Foi aqui que a Brompton fez a diferença, porque permitiu ter o melhor de três mundos. Posso andar de bicicleta e, quando necessário, dobrá-la para a levar dobrada no carro ou no Metro. Nesta semana com a Brompton usei o carro apenas o estritamente necessário, usei o Metro como elevador nos dias mais pesados, dobrei a bicicleta e caminhei com ela para não a deixar na rua em sítios mais complicados. Mal o Rui Moreira sabe que, nos meus dias de levar os miúdos, passei a usar a cidade dele como estacionamento para vir a pedalar de Brompton para Matosinhos!”

At this point we became a bit curious. How is he managing the daily routine with the four kids, all the meetings with clients and a not very short bicycle commute?

When I moved to a more central area, my commuting distance just doubled. I now have to commute 16 kilometres everyday, with a much more heavy traffic. Nevertheless, I persisted. As before, I only use the car when it’s my turn to drop the children at school or I have to visit clients outside Porto, but the Brompton made a big difference on these days. I carried the Brompton with me in the Metro, which works quite well as an elevator from the sea level to Boavista. I carried the Brompton in the car boot and I brought it inside when visiting more dodgy areas. Please don’t tell Porto’s Mayor I’m using his city as a parking when’s my turn to drop the kids at school!”

____________

A Brompton Week é uma experiência que estamos a fazer com alguns dos nossos clientes e amigos: passar uma semana com uma dos nossas Brompton de demonstração e depois contar como foi. Coisa simples e agradável.

The Brompton Week is an experience we are making with some of our customers and friends. They are spending a few days with one of these iconic bikes and will tell our readers how it was. Simple, fun and certainly life-changing.

____________

 

Recent Posts

SUMMER SALE 2024: PELAGO

No ano passado foi inédito, mas 2024 trouxe uma reedição. Chega o verão e a…

4 semanas ago

O TIAGO TROCOU O CARRO PELA LIMOUSINE

Depois de algumas dúvidas na configuração desta Bakfiets, eis o resultado final: uma e-cargo bike,…

1 mês ago

A MELISSA, A BRUNI E AS BROMPTON

As Brompton da Melissa e da Bruni A Melissa e a Bruni visitaram-nos na procura…

1 mês ago

A NÓMADA #2

Curioso escrever um texto sobre a Nómada #2, sem nunca ter escrito sobre a primogénita.…

2 meses ago

A TITAN #6.5

A Titan #6.5 Há uns anos, o duende cá da oficina terminou a Titan #6. Passado uns…

2 meses ago

OS POSTAIS DO LINO E DA BROMPTON

O Lino comprou uma Brompton e personalizou-a à sua imagem. Depois, foi em viagem e…

2 meses ago