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Duendes na Estrada – Régua

– Pessoal, amanhã às sete menos um quarto à porta da Megastore, combinado?

– É para ir onde? 

– Entre-os-rios. Estamos cá depois do almoço. Tragam farnel.

Foi esta a conversa que antecedeu uma rotineira ida a Entre-os-rios que acabou por se esticar, como vão poder ler daqui a pouco.

O tiro de partida foi então dado no MMM, com um grupo que incluía o Oliveiros, o Adamastor, o Teixeira e o Velho Lau. Meia hora depois, como de costume, o Homem que não tem um nome com três letras foi apanhado na Ribeira.

A ida até Entre-os-rios foi rapidinha e correu sem sobressaltos. É sempre aquela sensação estranha chegar a um sítio e ainda estar quase tudo fechado.

O pessoal ainda tinha vontade de pedalar mais um bocado. Voltar já para trás não era opção, até porque ninguém tinha pressa de encarar a subida do regresso tão cedo e sem pelo menos um cafézinho a corroer o estômago. Decidiu-se então continuar até ao Marco e parar aí para um cimbalino e um Magnum.

– E ir até à Régua? Isso é que era! – Disparou o Velho Lau de gelado na mão.

– Ui, isso é que era. Quantos quilómetros são? – Respondeu o Adamastor.

– Para aí trinta – Afirmou o Homem que não tem um nome com três letras.

Trinta? Siga. Depois voltamos para trás e se não apetecer voltar ao Porto apanhamos o Urbano aqui no Marco – Acrescentou o Teixeira.

– Vou ligar para o escritório – Rematou o Oliveiros. 

Estava o inocente arranjo feito e começou-se com os preparativos para voltar à estrada. Estando tudo a postos, alguém se lembrou de confirmar a distância, perguntando ao dono do café:

– Olhe desculpe, daqui até à Régua são quê… trinta quilómetros?

Trinta? Eu acho que são setenta e dois.

A contraresposta foi rápida e afirmativa.

– Setenta e dois? É maluco! Trinta e seis! Não são mais do que trinta e seis. Olha setenta e dois!

Ao que o senhor encolheu os ombros e virou costas. Agora sabe-se que o fez para se poder rir sozinho.

De volta à estrada, não foi preciso pedalar muito para encontrar uma placa a dizer ‘Peso da Régua, 72 km’.

Sem desmontarem das bicicletas e depois de alguém consultar o site da CP no telemóvel, os nossos heróis logo decidiram que voltavam ao Porto no Regional do final de tarde.

O problema de consultar coisas no telemóvel enquanto se pedala, é que se tende a não ler as letras mais pequeninas com informações importantes como “excepto nos serviços na linha do Douro”.

Poucos quilómetros depois, o primeiro sobressalto. O pneu do Teixeira estourou de velho com grande aparato, mandando gel e coisas modernas anti-furo para ar. Foi preciso ir procurar um novo e, felizmente, encontrou-se uma loja onde deu para trocar o pneu e uns mimos com os colegas que por lá andavam.

Logo depois de se arranjar a coisa começaram as amarguras, com as incontáveis subidas e descidas, mas sempre num cenário lindo de morrer.

As posições na equipa ficaram também muito bem definidas:

  • O Homem que não tem um nome com tês letras, pequenino, levezinho e sempre na frente era “o trepador”;
  • O Teixeira com a sua Titan, sem lhe largar a roda, “o perseguidor”;
  • O Oliveiros, com problemas mecânicos a cada dez pedaladas, foi o “a ver se isto não parte hoje”;
  • O Adamastor com a sua Raleigh quatro ou cinco números acima e a ganhar nas descidas o que era impossível nas subidas, “o foguete invertido”;
  • O Velho Lau, cá atrás, a estrear um pedaleiro Sugino de três pratos (à  velhinho) e um grupo 105 novo em folha, “o aguadeiro”, já que teve levar no saddle bag a carga que o resto do pessoal não tinha espaço para carregar.

Chegados à Régua, foi só o tempo de encontrar um sítio em condições e começar a recuperar as calorias perdidas numa proporção de 1,5 calorias ganhas por cada caloria gasta. Acabada a última batata frita e escurropichada a última gota do tinto da casa, os nossos amigos lá foram até à estação, onde como vocês já perceberam, deram com o nariz na porta.

– Bicicletas? Só se o revisor deixar. E normalmente não deixa entrar uma, quanto mais cinco.

Não sendo possível dormir na Régua por razões diversas, restava então procurar uma alternativa. Materializou-se assim um táxi Mercedes Vito de nove lugares onde se enfiaram as cinco bicicletas meias desmontadas mais os respectivos ciclistas. O pato? Cento e trinta euros.

Desta viagem de regresso, feita com um octogenário hiperactivo ao volante, chega dizer que houve quem a fizesse com o capacete enfiado na cabeça, a dizer “não vou morrer com o capacete ao colo”.

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