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Entrevista – Manuel Miranda

A Randonneurs Mondiaux é uma organização criada em 1983 com o objectivo de promover, encorajar e premiar os esforços dos ciclistas que gostam de testar os seus limites combinando a exigência do ciclismo de fundo com os prazeres do cicloturismo.

Esta grande comunidade internacional de ciclistas é regida por um espírito de superação, não competitivo, preocupando-se com a autonomia e com a segurança na estrada.

Segundo a página dos Randonneurs Portugal, um randonneur é um cicloturista que, em autonomia total, percorre longas distâncias de bicicleta. É um ultra-ciclista não competitivo.

Os Randonneurs Portugal são responsáveis pela organização no nosso País dos Brevet Randonneurs Mondiaux, eventos não competitivos com um percurso pré-definido de 200, 300, 400, 600 ou 1000 Km (sim, 1000).

Com apenas dois prémios únicos e iguais para todos no final, sendo um deles o carimbo no seu brevet homologando a distância percorrida, e o outro a satisfação de mais um desafio superado, o randonneur sabe, à partida de um evento, o seguinte:

  • Que está por sua conta e risco
  • Que participa individualmente, podendo, contudo, circular em grupo
  • Que vai em autonomia total
  • Que não vai ter assistência da organização no percurso para além dos postos de controlo
  • Que no percurso não pode ter ajuda de ninguém, à excepção dos outros participantes

O calendário para 2015 pode ser consultado aqui. As questões mais importantes são respondidas aqui.

A propósito do evento do BRM Alto Minho, que se vai realizar no próximo dia 7 de Março, entrevistámos para a Gazeta do Ciclista o Manuel Miranda, umas das pessoas que dá a cara pela organização dos Randonneurs Portugal no Norte do País.

Ora então Manuel, em meia dúzia de palavras, conta-nos quem tu és.

Tenho 51 anos, sou técnico de informática e gosto de atividade física, sobretudo se incluir a componente de aventura e superação. Este gosto levou-me ao BTT, nos anos 90, época em que se viviam os primeiros tempos da modalidade em Portugal.

Já nessa altura, com bicicletas e acessórios muito simples, vão surgindo as primeiras maratonas, travessias e Caminhos de Santiago, onde a minha opção era sempre a distância mais longa.

Como te envolveste nisto dos Randonneurs Mondiaux?

Das travessias fora de estrada para as viagens por estrada, com bicicleta adequada, foi um percurso natural e uma aprendizagem constante. Foram sendo várias as fontes de informação, como as revistas (que saudades da BikeMagazine nº 1), artigos, crónicas e blogues.

Aí comecei a acompanhar os blogues “Portugal na Vertical” e “A Dinâmica do Pedal”, onde estava patente um desafio de longa distância com data e local marcado. No dia da saída, eu e o meu amigo José Ferreira, comparecemos no local previsto para conhecermos pessoalmente os heróis da façanha. Eram o Pedro Alves (actual presidente da Associação Randonneurs de Portugal) e Albano Simões, que se preparavam para sair de Viana do Castelo de bicicleta com destino a Sagres, em autonomia.

Mantivemos o contacto e daqui saíram os sócios fundadores da referida associação, filiada na Associação Les Randonneurs Mondiaux, que representa em Portugal o Audax Club Parisien e tem por missão a organização de BRM – Brevets Randonneurs Mondiaux.

Qual a tua melhor memória de um evento? Qual foi aquela sensação que esperas voltar a repetir?

Uma memória que mantenho bastante presente é a do meu primeiro BRM Alqueva 400, em 2011.

Este BRM tem a singularidade de, em condições normais, chegar ao grande lago no nascer do dia, sensivelmente com 1/3 dos km percorridos… Eu, a bicicleta, um dia a iniciar-se e a ideia de um pequeno-almoço quentinho que quebre a frescura da madrugada, lá para os lados de Mourão.

O que fiquei com vontade de repetir, não consigo identificar, talvez por isso, tenho participado nesse mesmo brevet todos os anos.

Quem é o Randonneur típico?

É alguém que usa a bicicleta de forma natural, em lazer ou no dia-a-dia. É alguém que gosta de pedalar para longe, embora sem se preocupar muito com o relógio, gosta de planear a viagem e não precisa de estar em grande forma física para o fazer.

Tendencialmente são participantes de meia-idade, com alguma experiencia e que se identificam com eventos não competitivos como os Brevets Randonneurs Mondiaux e dão importância a diversos detalhes da sua bicicleta, onde a autonomia, a fiabilidade e durabilidade dos componentes são essenciais.

Como descreverias o calendário nacional para 2015? Que tipos de desafios esperam os nossos Randonneurs?

É um calendário típico de um país da nossa dimensão, com uma comunidade relativamente pequena de randonneurs. Este ano está focado no Paris – Brest – Paris de Agosto (1200 km) e globalmente temos uma série completa com opções diferentes nos BRM de 200 e 300 km.

E no dia 7 de Março, com o que é que podemos contar?

É a distância mais curta na série de brevets, o primeiro do ano aqui no norte, ideal para iniciar a temporada.

É um dia de bicicleta pelo intenso verde do Minho, com início no concelho de Esposende, cruza o centro das vilas de Ponte de Lima, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez, Monção, Valença e Caminha, escoltando os rios Lima, Vez, Minho e Coura. Apresenta algum acumulado de altimetria mas, feito com calma, é perfeitamente abordável por ciclistas de média mas consistente preparação. A paisagem variada é perfeita para experimentar uma longa distância.

Se um dos nossos leitores se sentir tentado a participar, que cuidados deve ter e que regras deve respeitar?

Esta seria uma reposta grande e por isso a forma mais fácil de responder é recomendar o sítio dos Randonneurs Portugal. Resumidamente, o leitor terá de pedir a associação aos Randonneurs Portugal, uma vez que os BRM não são promovidos para o público em geral, ter um seguro de acidentes pessoais e responsabilidade civil e claro, conhecer de cor e comprometer-se a respeitar o regulamento internacional dos Brevets Radonneurs Mondiaux.

Agora mudando ligeiramente de assunto. Sabes que gostamos muito de bicicletas e que é por isso que cá estamos. Quando cá vens não deixamos de olhar com uma certa gula para a tua bicicleta. Sem entrar em grandes pormenores ‘comerciais’, explica ao pessoal a máquina com que andas e o porquê das opções técnicas que fizeste.

É apenas uma bicicleta confortável com um quadro em titânio, fora de moda cá em Portugal. O resto são rodas com raios “normais”, também fora de moda, para tentar não ficar algures empenado, um porta-cargas para levar o necessário para ir para longe e mais algumas excentricidades de randonneur.

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Créditos fotográficos:

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