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UM TORPEDO DE COMOÇÃO

Voz forte e pausada, um pouco roufenha por causa do pó.

“Tinha lá um manípulo Sachs. É igual ao teu.”

Voz comovida, algo estremecida e com um muito subtil gaguejar.

“Ó pá! Posso dar-te um abraço?”

Outra vez a voz forte.

“Podes. Só um. Mas rápido que agora vem aí o Nuno para lhe dar uma aula.”

Foi a conversa que a Dinamarquesa ouviu quando regressava da Adega do Ciclista com o quinto café do dia na mão, antes de começar a subir para o tomar confortavelmente no quartel general das coisas do marketing, uma luminosa sala situada no quarto e último andar da Megastore do MMM, mesmo ao lado dos duendes dos Sistemas de Informação (um dia também vamos falar deles).

Parou e ficou a ouvir atrás do majestoso portão das oficinas gerais da Velo Culture. Amor entre mecânicos? Este tipo de duendes são seres particularmente competitivos e normalmente não costumam mostrar afecto, ainda menos uns pelos outros. Ficou assim parada, com o café a arrefecer e a tentar perceber o que se tinha passado.

Aparentemente, um dos duendes tinha tido um estouro imprevisto e ficado com a bicicleta feita num oito inoperacional. Estava a pedalar no centro do Porto, fez força para acelerar, deu com o pedal em falso, a roda da frente fugiu, o corpo foi lançado para a frente. Estão a imaginar o resto.

A maioria das mazelas na bicicleta não foram coisa que as mãozinhas hábeis do duende não resolvessem, mas havia um problema chato. O manípulo, aquela coisa ali em cima na fotografia, tinha ficado encostado ao asfalto, mesmo por baixo do guiador, que por sua vez ficou por baixo dos óculos, que estavam encostados às orelhas, ainda agarradas à cabeça, que estava por baixo do resto do corpo do ciclista. O manípulo era velho, partiu, ficou sem arranjo.

Com o manípulo descomposto, ir e vir para Matosinhos de bicicleta tornava-se uma coisa penosa demais para quem não anda de mais nada. A vida de um duende depende de coisas tão improváveis como este objecto. Por isso, ainda meio contundido, teve que jogar a última cartada e recorrer ao Bob, o Homem da Bata Verde, bem conhecido pelos seus milagres.

O Bob ouviu pacientemente as lamúrias do colega e, num momento de rara compaixão, desceu até a um dos pisos abaixo da Sub-Cave 2, onde dizem que está escondido o famoso Bunker. Passado umas horas emergiu com, nada mais nada menos, um manípulo novo. Igualzinho ao original.

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Sorry folks, no English this time.

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