Este texto, da autoria da Gisela Lameira, complementa a entrevista que lhe fizemos a propósito da nossa experiência “A Brompton Week” e que pode ser lida aqui.
Monta-se e desmonta-se num abrir e fechar de olhos. É a bicicleta dobrável mais funcional que experimentei: simplesmente faz aquilo que se espera e rápido. É uma peça de design fantástica, bem desenhada, onde cada pormenor foi pensado. Sendo arquitecta, naturalmente fiquei entusiasmada ao observar a coisa mais de perto. Não escondo de ninguém que, tal como vocês na Velo Culture, adoro ‘bicicletas bonitas’.
Em miúda, não largava a bicicleta. Mas a verdade é que desde que vim para o Porto há quase vinte anos, que essa mania passou. Mais tarde comecei a andar de Vespa e nunca mais a larguei. Há três anos quis comprar uma bicicleta e, após alguns impasses, vim para casa com uma das vossas Foffa Urban que, apesar de não a usar diariamente, é uma paixão para a vida. E porque é que não a uso assim tanto? A verdade é que no Porto, o que me demove de andar de bicicleta não são as subidas, é mesmo o convívio com os automóveis e autocarros. Como cumprir o código de estrada, quando um autocarro numa subida te ultrapassa a trinta centímetros de distância? Claro que o conforto, ou a pressa de chegar a algum lado também são factores reais, mas às vezes é também a preguiça e a falta de disciplina que me levam a pegar no carro.
Desde que peguei na Brompton, tenho feito todos os percursos casa-trabalho com ela: de manhã, hora de almoço e regresso ao final da tarde. Estou agradavelmente surpreendida. Em quase todos os aspectos, pelo menos numa utilização diária, nada fica nada a dever à Foffa. Pior, cabe na mala do carro e no elevador. Se não estivesse ainda apaixonada pela outra, não sei se não pedia divórcio em breve.
E porque é que estou surpreendida? Porque achei que ia sofrer um pouco com o cubo de três mudanças depois de estar habituada a um de sete, mas posso atestar que não senti diferença significativa. Obviamente que é necessário um bocadinho mais de empenho, mas nada de dissuasor (atenção pessoal, que também existe uma versão da Brompton com seis mudanças). Depois, porque estando também habituada a uma bicicleta com roda grande, tinha a ideia feita de que iria pedalar a triplicar. Olha, nem notei diferença.
Por fim, mesmo tendo garagem e arrumos para guardar a bicicleta e local para a amarrar decentemente na Faculdade, é uma alegria a possibilidade de arrumar a Brompton rapidamente em casa, depois de subir com ela no elevador. É um luxo.
Agora o menos bom (sim, porque não consigo ver nada de mau neste fantástico objecto de design). É um bocadinho pesada para transportar dobrada em percursos de mais de vinte ou trinta metros, pelo menos para mim, que normalmente apenas ginastico as pernas.
Também não me agrada muito alguma trepidação em pisos menos lisos, dada a roda pequena, mas não foi isso que me demoveu de andar com ela por todo o lado. Até me fez lembrar Pablo Neruda, neste bonito trecho:
Iba
por el camino
crepitante:
el sol se desgranaba
como maíz ardiendo
y era
la tierra
calurosa
un infinito círculo
con cielo arriba
azul, deshabitado.
*in Oda a la bicicleta, Pablo Neruda
PS: lembram-se daquele bocadinho lá em cima sobre o divórcio e tal? Bem, acontece que entretanto encontrei uma pechincha e comprei uma Brompton usada. Não digam nada aos duendes, está bem?
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