A propósito do próximo evento que a nossa oficina do Palácio vai receber, ainda no âmbito da pop-up da Mariamélia, e que será dedicado ao café e à cerveja, o nosso querido Diogo (OPO 74), um dos participantes, enviou mais uma crónica para ser publicada na Gazeta. As fotografias foram tiradas por casualidade, no sítio do costume, numa tarde de Setembro.
Pela carica quebra-se o silêncio e a palavra outrora enclausurada é cuidadosamente vertida. Em cada copo, esse cónico altifalante de vidro, uma mensagem. São cada vez mais as pessoas que compreendem os símbolos organolépticos das nossas cervejas. Porém, após alguns anos de protesto cervejeiro ainda existem muitos bebedores incapazes de encontrar a eloquência que gostaríamos no subtil discurso fermentado em pequenos lotes. Tal acontece porque sem certas vivências gustativas, a linguagem que a cerveja contemporânea se propõe a transmitir é incompreensível. Para tais consumidores, ainda há todo um progresso de etapas de aprendizagem até ao dia em que um gole numa cerveja alternativa seja de facto uma apoteose. Um saboroso entendimento, a vários níveis.
Apresentamos dialetos distintos de outros populares líquidos amarelos efervescentes artificiosamente também intitulados de “cerveja”. A nossa luta é mais discreta. Mais lenta. A nossa causa é a celebração do sabor. A mensagem é poderosa, consideramos nós, mas os os recursos são reduzidos e tendem a esgotarem-se na escolha de bons ingredientes e criação de receitas. Sem grandes manobras de publicidade, resta-nos deixar o produto falar por si.
Tais dinâmicas não são exclusivas da nossa marca nem tão pouco da nossa área de interesse. Existem projectos que partilham connosco certos maneirismos. A Velo Culture é um desses projectos. Com ferramentas distintas da nossas, obviamente, também celebram uma maior proximidade entre produtor e produto. Um maior sentido de justiça cultural. E económica também, pois quem gastar dinheiro nos nossos produtos, gastará certamente um pouco mais na sua comunidade.
Não obstante às vezes parecer inglória, a nossa luta não é solitária. Ao longo dos últimos meses, temos sentido maior companhia idiossincrática na cidade. A batalha é discreta mas pertinente. Felizmente, parece também extravasar a cerveja, ou as bicicletas, os têxteis, a gastronomia, e a arte em geral. Sabemos que ainda falta muito caminho a ser despretensiosamente caminhado. Todavia, a nossa esperança é que suspiros possam falar mais alto do que gritos. Que mais projetos nasçam e inspirem mais pessoas. Que essa consciência comum nos permita continuar por cá por mais algum tempo para que gole após gole, continuemos a produzir uma serena revolução.
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O Diogo é um encantador de leveduras e o inquilificado director de vendas nos nossos amigos da OPO 74 Brewing Co. Chegou ao Porto no final de 2017, vindo da sua Madeira natal e só bebe profissionalmente. O Diogo escreve regularmente no blogue Ceveja Depressão.